International Relations, political parties and political sociology. Por Israel Gonçalves
Reflexão
"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro
"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire
Tuesday, December 22, 2009
Incursões ao pensar: um olhar sobre Hannah Arendt
Depois de Platão (IV a.C.), a filosofia tem como eixo a metafísica. No período Medieval, a Igreja Católica reforça tal perspectiva com Santo Agostinho que teoriza tal posição em uma cosmologia. Assim, há em Santo Agostinho o reino dos homens ( na terra) e o reino de Deus (no céu), sendo o último o objetivo dos seres humanos. Nessa perspectiva há na tradição filosófica uma valorização do que chamamos de alma sobre o corpo.
No início do Período Moderno, René Descartes (1596-1650) escreveu: “Sou uma coisa que pensa, isto é, que dúvida, que afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que deseja, que não deseja, que imagina também e que sente” (Os Pensadores, 1973, p. 107), ou seja, Descartes reforça que sou por que penso, ora: Penso, Logo Existo. A busca da verdade estaria no pensar, pois o corpo é contingente e objeto da Geometria e o pensar seria algo imanente e fonte do conhecimento humano. Descarte mostra que o corpo é distinto do seu pensamento e que o atributo fundamental da alma encontra-se em tal pensamento. Esse dualismo cartesiano valoriza o pensar em detrimento do corpo. Essa posição é compreendida (por muitos) como verdadeira até hoje.
Segundo Kant: não temos acesso ao real propriamente dito, mas sabemos sobre a aparência das “coisas em si” e é reconhecer que ela existe, ou seja, mesmo que minha interpretação não seja a realidade em si, ela existe e extraiu um conhecimento dela. Assim dou significado ao meu pensar pela interpretação, mas também significo o objeto – a natureza. A natureza e o pensar estão imbricados (Ver: Danilo Marcondes. Introdução à Filosofia).
Já Hannah Arendt, no bojo desta tradição, que vem desde Platão e passa por Kant, repensa essa dualidade que coloca à natureza versus o pensamento. Todavia, essa ressignificação sobre o pensar está intrínseca com sua experiência de vida.
Lembramos que ela foi influênciada pelas teorias de Heidegger, que tem na fenomenologia uma outra base de leitura sobre o mundo. Nesse caminho Arendt encaixa o pensar, ou melhor, a falta do mesmo como uma forma de diagnosticar nossa crise dos valores-normativos e do esvaziamento do espaço público. Assim, quando não há discussão sobre o ser político na esfera pública, ou seja, quanto menos questionarmos sobre as coisas, mais espaços estaremos concedendo para o que ela chama de totalitarismo. Diz Arendt: “O estabelecimento de um regime totalitário requer a apresentação do terror como instrumento necessário para a realização de uma ideologia específica, e essa ideologia deve obter a adesão de muitos, até mesmo da maioria, antes que o terror possa ser estabelecido.” Por isso, encontraremos regimes totalitários em vários modelos políticos e econômicos, no capitalismo, na sociedade de consumo, no comunismo e no nazismo, ou seja, o totalitarismo é mais que um regime político, ele é uma estrutura moral e tem apoio das “massas” – aqui como sinônimo de irracional.
Arendt parte de uma crítica à modernidade. Para ela o que denominamos “modernidade” começou com Platão, quando ele distingue o mundo dos homens e o mundo das idéias. Descarte seria o pensador que consolida através de um radical racionalismo essa dualidade. Arendt utiliza-se da própria tradição filosófica para combater tal concepção dual sobre o mundo. Ela buscou sua resposta ao que é pensar em Sócrates e Platão ao mostrar que o diálogo é uma fonte do pensar. Nessa perspectiva, onde não há questionamento cria-se um “vazio de pensamento” que possibilita um espaço para o mal, assim para Arendt o mal é o não pensar.
Dessa forma o pensar é “dois em um”, como exemplo, uma pessoa sozinha nunca está só, pois encontra-se com seu ego pensante ( com a cultura etc.), já o solitário vive só, porque perdeu a capacidade de pensar. Esse fato – o de não pensar – é a lacuna necessária para um regime totalitário.
O Totalitarismo seria o máximo na esfera de um governo, de uma instituição contra os seus próprios indivíduos, ou seja, torna os sujeitos supérfluos e inúteis. Por isso quando “a massa” apóia um regime Totalitário estaria corroborando com seu algoz.
Arendt associa o pensar aos objetos do pensamento, que só podem ser coisas merecedoras de amor – beleza, sabedoria, justiça etc. O mal e a feiúra, quase por definição, estão excluídos da consideração do pensamento. Eles podem apresentar-se como deficiências, consistindo a feiúra na ausência de beleza e o mal na ausência de bem. Em si, não tem raízes próprias nem essenciais onde o pensamento possa se afirmar. Se o pensamento dissolve até o seu significado original, então o mesmo processo tem que dissolver estes conceitos “negativos” até a sua essência de significados originais, isto é, até o nada.
Arendt é importante para nossa compreensão das relações sociais contemporâneas, pois foca sua reflexão no pensar-agir, ou seja, do fazer política - e a política só é válida se for plural, isto é, Arendt não separa o agir do pensar.
E você, como pensa?
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ninest123 16.03
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