Reflexão


"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro

"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire

Sunday, October 30, 2011

O direito à verdade




Não se pode negar a importância do Estado em manter alguns documentos em sigilo. Na área da diplomacia é essencial o segredo de algumas ações, pois envolve recursos financeiros e humanos.

Na Guerra Fria, vários acordos secretos foram importantes. Um exemplo foi o acordo entre os EUA e a ex-União Soviética em 1962, que retirou seus mísseis de Cuba enquanto os americanos retiravam suas armas da Turquia. Tal fato só foi revelado muito tempo depois.

Talvez resida aí a polêmica em torno do site Wikileaks, que revelou documentos do Estado norte-americano, enquanto ações do governo ainda eram efetivadas no campo de batalha. Os documentos revelados pelo site mostravam o descaso do Estado americano com os Direitos Humanos, mas isso não chegou a mudar a postura do governo. Atualmente, o site sofreu algumas sanções, que vem gerando uma crise financeira neste meio, ou seja, quem está sendo prejudicado é o denunciante.

No Brasil, os documentos Oficiais considerados ultrassecretos não terão mais o sigilo por tempo indeterminado. Antes, o acesso aos documentos oficiais poderia ser prorrogável quantas vezes o governo achasse necessário. Agora, os documentos do período da Guerra do Paraguai e até do Regime Militar poderão ser acessados por qualquer cidadão interessado nesses arquivos. O Senado aprovou no dia 25 de outubro a Lei de Acesso às Informações Públicas, que regula o acesso a esses documentos. A partir da sanção presidencial qualquer documento Oficial considerado ultrassecreto será disponibilizado após 25 anos, prorrogável uma vez pelo mesmo período, ou seja, o limite do sigilo é de até 50 anos.

Tal fato é uma alavanca para o aprimoramento da democracia e do conhecimento sobre nossa própria História. A sociedade de qualquer país deve ter o direito de saber o que seus governantes fizeram, pois isso é uma forma de conter qualquer tipo de terrorismo de Estado entre outras possíveis arbitrariedades contra os Direitos Humanos.

Tuesday, October 25, 2011

Por uma nova Líbia.



Os rebeldes da Líbia, em boa parte cidadãos comuns, conseguiram mostrar aos governos ditatoriais do mundo que é possível vencer uma guerra contra um exército regular. O efeito político da morte de Kadafi, em 20 de outubro, é colossal, não chegou a uma semana da morte de Kadafi e seu filho, e o ditador do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, resolveu abdicar do governo, após 32 anos no poder, talvez pelo temor de acontecer com ele o mesmo que ocorreu com o ex-ditador da Líbia.

O novo governo da Líbia não terá todas as estruturas da democracia ocidental, talvez tenha o mínimo, ou seja, tenha sua forma de governo pautada por uma República Islâmica com participação do povo, que por meio do voto, escolheria seus parlamentares ou presidente. Se for isso é pouco, tendo como dado a miríade de mortos.

Para os governos europeus não importará muito o modelo de governo que será adotado na Líbia, e sim, se os contratos efetivados para distribuição de petróleo e gás serão mantidos. Era evidente às relações políticas e econômicas que Itália, França entre outros países mantinham com ex-ditador Líbio. Tudo em nome do petróleo barato e acessível deste país do norte da África para os países ricos e “civilizados” da Europa.

Após a morte de Kadafi, relatos de execução em massa de seus seguidores são veiculados em vários meios de comunicação. Assim, a nova Líbia já nasce com um problema, quem julgará esses crimes e como as armas serão recolhidas desses ex-guerrilheiros? Há também uma probabilidade que ao mudar radicalmente sua forma de governo, os líbios, para se manterem como um país estável, não poderão mudar seu eixo econômico.

Monday, October 17, 2011

Nova Política do Velho Sistema

Um espectro ronda Limeira: a ideia que alguém em algum lugar desta cidade está fazendo uma “Nova Política”. Sinceramente nunca vi um discurso mais surrado, vazio e clichê do que isso. Lembro que Fernando Collor de Mello, o nosso primeiro presidente eleito por voto direto, após o regime militar (1964-1985), também se dizia um candidato novo, com uma nova política, sem os vícios dos marajás, e isso não significou nada, em termos éticos, pois como sabemos ele sofreu um impeachment.

Não acredito que alguém faça uma nova política em um sistema marcado pela falta de transparência e relações de compadrio. Penso ao contrário desta proposta de “novo” político; prefiro políticos experientes com novas ideias a políticos transvestidos de protetores do povo, aliás, pobre é a sociedade que precisa de herois, como já disse um poeta. Pelos menos esses políticos salvadores leram bem a parte do Príncipe, livro de Maquiavel, que diz: “E tão simples são os homens, e obedecem tanto às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar”.

Os simpatizantes desta “nova política” se utilizam dos mesmos discursos dos velhos políticos da cidade, querem mudar o que está errado, e eles, com se fossem ungidos por Deus, são os que irão consertar tudo em nosso meio. Isso até soa bonito através dos meios de comunicação de massa. Todavia, a “Nova Política” proposta não faz referência aos meandros do velho sistema político patrimonialista da região, de distribuição de cargos e do coronelismo a lá República Velha.

Enquanto a sociedade acreditar em gurus, mágicos e querubins, provavelmente continuarão culpando os donos do “poder” pelas mazelas da cidade, achando mesmo que há algum poder com eles, entretanto há um segredinho, o poder é expresso pela própria sociedade.