Reflexão


"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro

"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire

Sunday, December 27, 2009

Educação no campo: por uma escola cidadã – parte I




Quando penso no campo, vem na minha mente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Este famigerado movimento tem na ocupação da terra e para quem não sabe na educação um meio de transformação social. Em muitos assentamentos as escolas ainda são de lonas ou de pau-a-pique com terra batida, em meio a esta diversidade, a escola para o MST vai muito além do que só aprender a ler e a escrever ou a conhecer a história do Brasil. A ideia do movimento é que a escola forme o cidadão mesclando sua história pessoal com a coletiva, não distinguindo educação e política.

O ambiente educativo é organizado de tal forma que a pessoa não fique dependente de um livro didático ou de somente uma fonte de informação, isto é: ela tem a capacidade de enxergar problemas, analisar suas causas e propor alternativas para superá-los.

Segundo a educadora Roseli Salete Caldart ao falar dos alunos do MST: “Cada aluno é condutor da sua própria história, onde não se estuda democracia, se exercita. Onde não se aprende matemática, se aplica.” O aluno tem sua opinião, briga, através de argumentos, por sua posição e defende seus direitos. Nesse ínterim, os alunos são cidadãos plenos, pois cidadania é atuar como um ator político. Por isso os alunos encontram-se inseridos na luta de classe reconhecendo-se como sujeito. Para garantir progressos, precisa conversar com os outros, porque a autoridade é coletiva. Partindo da realidade, pode-se recriar o que já existe, ajustando-se situações de vida aos conteúdos programáticos. O professor acaba se tornando um CRIADOR pedagógico - e não um papagaio de livros recomendados pelo MEC - principalmente no ensino fundamental e na alfabetização de jovens e adultos.

Já o Curso Técnico Administrativo de Cooperativas – TAC, é outro avanço do movimento, além de um curso de Magistério em nível de ensino médio, há cerca de 300 alunos do MST concluindo cursos universitários em todo país. E mais. São poucas instituições que conseguem implementar em mais de 20 estados brasileiros, trabalhos como o do MST, como por exemplo, temos a Ciranda Infantil, premiada pela ONU (Nações Unidas). Para o futuro, o MST, prioriza a educação de jovens e adultos e a universalização do direito ao ensino fundamental até as universidades - não me lembro de nenhuma escola ou programa educacional em Limeira que foi premiada pela ONU.

Para finalizar gostaria de usar uma frase que li no Manifesto dos Trabalhadores Sem Terra ao Povo Brasileiro, escrito em 1997. No seu artigo 1º o manifesto afirma: “Somos sem terra. Somos trabalhadores e sonhamos com um Brasil melhor para todos. Mas na sociedade brasileira atual é negado ao povo o direto de vida digna”. Entenda-se dignidade não como um mero substantivo, mas como o eixo da nossa existência, isto é, precisamos de terra, de trabalho e de liberdade de expressão. Enfim, Martin Luther King já afirmava: “Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam”. O que importa no momento é saber por que alguns brasileiros tem milhões de quilômetros de terras e a maioria de nós paga aluguel ou vive em puxadinho no fundo da casa dos pais. Podemos discordar às vezes do método, mas a reforma agrária é imprescindível para fazer do “Brasil um país para brasileiros (as)”.

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