Reflexão


"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro

"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire

Friday, April 30, 2010

Pelo direito do Amor Total





É direito inalienável de um indivíduo amar. O amor é o colorido do nosso cotidiano bucólico. Amar é poema em essência. Se há o direito de amar, todavia, o direito de expressá-lo é tolhido no dia-a-dia. É muito comum olhares de discriminação sobre os casais homossexuais. Os olhares, como exemplo, são atirados em um casal de mulheres que se beija de forma suave em uma calçada, de dois homens - no sentido biológico - com as mãos dadas em um centro urbano qualquer do Brasil. O beijo dado entre as amantes e a mão dada entre os enamorados é mais visível que o pedinte na beira da rua.
A configuração da cultura ibérica brasileira é autoritária e excludente com relação aos homossexuais, bissexuais, transgêneros, transexuais e travestis, pois nega o direito de expressar o amor entre pessoas que optaram por ter parceiros do mesmo sexo.

O sexo, na sua forma biológica, não pode ser comparado no mesmo cenário que o cultural - que é criado no processo histórico. As escolhas individuais de cada cidadão ou cidadã é uma ação realizada no âmbito privado que deve ser respeito na esfera pública quando o mesmo não ferir o direito de ir e vir dos transeuntes entre outros direitos de ordem política e civil. Todo homem tem o direito de expressar o seu amor por outro homem na calçada de sua casa, no cinema ou no bar tomando sua cerveja. Não se provou que casais homossexuais são menos inteligentes ou mais propensos à perversidade - ou coisas do gênero. Pelo contrário, casais homoafetivos fazem as mesmas coisas prosaicas que casais heterossexuais, não há nada de diferente.

Pelo dito acima, é louvável a decisão da 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que decidiu no dia 27/04 que duas crianças poderão ser adotadas por um casal de mulheres em Bagé (Rio Grande do Sul). Agora as duas mulheres terão os direitos sobre a educação da criança, ou seja, poderão mostrar a criança que a diversidade é o eixo da nossa sociedade.

Desde 1973, a homossexualidade não é considerada doença e nem uma ação imoral. É, pelo um viés poético, uma prova de amor a um outro ser do mesmo sexo. Os homossexuais devem ter os menos direitos que os heterossexuais, na sua esfera jurídica e moral. Não há nenhum problema em aceitar o casamento civil entre os homossexuais. Nada consta que na Holanda, Espanha ou Canadá – países que aceitam a união homossexual – tiveram sua economia afetada ou tornaram-se países menos comprometidos com suas tradições culturais ou religiosas. Também, nenhuma pesquisa mostrou que os homossexuais são menos produtivos do que um soldado heterossexual no campo de batalha ou no quartel, assim, porque não aceitá-los nas Forças Armadas? A decisão do STJ não foi apenas uma questão de fórum íntimo, trouxe à tona um debate urgente e necessário, pois os homossexuais, bissexuais, transgêneros, transexuais e travestis tem direito a ter direitos.

6 comments:

  1. Ao ler seu texto me lembrei da poética frase de Mario Benedetti no tocante de "Que a gente viva feliz mesmo sem permissão". Está mais do que na hora de entendermos a sexualidade como um dispositivo histórico e soltarmos das amarras de uma concepção biológico-cristã que em nada contribui para a alteridade.Rótulos, como homo, bi, trans, heto etc, também me incomoda, pois somos mais do que fazemos com a nossa sexualidade.
    Abraços...

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  2. Olá professor, tive aulas com vc no ISCA, adorei esta matéria. parabéns!

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  3. Obrigado pelos comentários.

    Abs

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