Reflexão


"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro

"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire

Friday, February 26, 2010

Um golpe no processo democrático latino-americano









Conhecida como década perdida os anos de 1990 se caracterizou pelo projeto neoliberal na América Latina. Privatizações e instabilidade social foram à tônica das relações sociais, principalmente na América do Sul. Posteriormente, na entrada do século 21, a América do Sul conseguiu engendrar uma onda política de presidentes a lá esquerda. Muitos desses políticos foram reeleitos. O presidente mais polêmico desta seara é com certeza Hugo Chávez. O venezuelano é citado quase que diariamente pelos jornais e sites brasileiros. Muito se escreve e critica sobre os seus 11 anos de governo e sua ingerência administrativa. Todavia, sinto falta de um debate mais profundo sobre o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez. Ele está no poder desde 2002, ou seja, completa 8 anos no governo e não conseguiu implementar o que propôs nesse longo período - acabar com os grupos armados no país. A amostra de que sua proposta política é ineficiente, está na concessão das bases militares para os EUA, isto é, Uribe abriu mão da soberania colombiana para efetivar algo que não conseguiu nos seus 8 anos de mandato.

Vamos aos fatos: Uribe foi eleito para governar a Colômbia entre os anos de 2002 até 2006. No sistema eleitoral colombiano não era permitido a reeleição, até que nas eleições de 2006, Uribe consegue manipular a Corte Constitucional do país e aprovar uma mudança na Constituição que lhe permitiu disputar o pleito eleitoral, sendo assim, reeleito. Neste ano, faltando poucos meses para as eleições presidenciais – que ocorrerão em 30 de maio - Uribe tenta pleitear seu terceiro mandato. A iniciativa de Uribe vai contra a Constituição do país – que ele mesmo já tinha mudado em 2006. O presidente colombiano, além de permitir que os EUA ocupem áreas estratégicas no país, aceita que os Yankees manipulem as decisões políticas que tem como objetivo golpear a democracia conquistada pelo povo colombiano, depois de anos de guerra civil. Imagino que se o governo Lula fizesse o mesmo no Brasil, seria tratado como golpista e antidemocrático. Mas fico admirado que nossa imprensa não cite ou trate muito superficialmente o revés democrático que a Colômbia vem passando nos últimos anos.

Quais são os verdadeiros motivos para que o processo político colombiano fique a margem do debate da imprensa brasileira? Se Uribe é um presidente que aceita a democracia como forma de governo, porque ele quer se perpetuar no governo? Se a Colômbia é um país soberano, quais são os motivos da interferência direta dos EUA na região? E mais, o problema na Colômbia é militar ou social? São perguntas que qualquer latino-americano deveria fazer, pois como já vivenciamos – em décadas recentes - as mazelas das políticas neoliberais americanas, devemos discutir de forma exaustiva o futuro da nossa América do Sul.

O governo brasileiro é um exemplo de compromisso com a Democracia ao respeitar a sua Constituição e manter uma estabilidade política por mais de 24 anos.

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