International Relations, political parties and political sociology. Por Israel Gonçalves
Reflexão
"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro
"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire
Thursday, February 4, 2010
O ciclo da cana: seu novo aspecto ambiental e social
A história do Brasil está marcada pela exploração. No primeiro século de existência (1501 - 1600), temos a retirada em grande escala do Pau-brasil. Todavia, um fator importante que marca esta época é a introdução, em 1534, da cana-de-açúcar por Martins Afonso de Souza. Produto que foi exportado para a Europa em grande escala, ofertando um grande lucro para a Metrópole, ou seja, Portugal.
O sistema era o plantation, isto é, latifúndio mais monocultura. Essa forma de produção agrícola só ocorreu, entre outros elementos, por que a Metrópole ofereceu grandes extensões de terras sem cobrar por elas. Essas terras foram retiradas à força dos nativos para serem entregues aos seus "novos" proprietários, que naquele momento eram concedidas pelo rei a um donatário e pela mão de obra barata, - que como sabemos era pautado pelo escravismo indígena e africano. Serão estes dois fatores - terra e mão de obra barata - os principais elementos do sucesso econômico da plantation açucareiro na Colônia Brasil. Mas qual é a diferença operacional do início da produção de açúcar na Colônia para o atual momento do Brasil?
Atualmente, a terra contínua barata para os usineiros. Eles estão comprando e arrendando terras, em boa parte dos municípios do interior de São Paulo, como por exemplo, em Rio Claro. A mão de obra para o plantio da cana é quase que, exclusivamente, do interior do nordeste brasileiro. Esses trabalhadores da terra, conhecidos na história como "boias-fria", ganham uma insignificância perto dos lucros dos usineiros, além disso, cada trabalhador necessita cortar no mínimo dez toneladas de cana por dia para se manter empregado, e quando não atingem este valor, são obrigados a voltar para o seu local de origem.
Os alojamentos (senzalas modernas) desses trabalhadores são precários, como foi discutido no Seminário - Agroindústria Canavieira: trabalho, trabalhadores e processos sociais; que ocorreu entre os dias 17 e 18 de outubro de 2007 na Unicamp. Os alojamentos abrigam normalmente quarenta homens, que dividem um espaço insuficiente entre sim, geralmente não há banheiro para todos e muito menos um espaço para lavar suas roupas decentemente - eles voltam do trabalho com a roupa toda preta por causa da queima da cana.
Neste sentido, podemos dizer que a escravidão não acabou, mas apenas se modernizou. Outro fator relevante é que o plantio da cana de forma intensiva tem um forte impacto ambiental e social. Primeiro, a queima da cana produz uma fuligem que contribui para o aumento dos problemas respiratórios, principalmente em crianças; segundo, o cultivo da cana esgota boa parte dos nutrientes minerais da superfície do solo; terceiro, provoca erosão e destruição da mata ciliar.
Assim, o discurso do álcool ou etanol não pode ser qualificado como um biocombustível. Esses discursos convergem na afirmação de que o biocombustível tem um menor impacto ao meio ambiente, mas como afirmamos, o local de plantio é totalmente degradado pela monocultura da cana e, além disso, sua produção provoca uma situação de trabalho deplorável ao ser humano, semelhante ao do início da colonização. De 2004 até o final de 2007, já morreram mais de vinte e um cortadores de cana, os quais, tudo indica, por trabalho exaustivo. Podemos classificar esta política econômica, que tem suas bases no agrobusiness, como a venda de nossos produtos agrícolas sem levar em conta seus impactos ambientais e sociais. É por isso que o produto fica com um preço acessível para o mercado externo.
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Excelente texto professor, muito instrutivo e ótima pedida para conhecimentos gerais no vestibular - Parabéns !!!
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