Reflexão


"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro

"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire

Friday, January 29, 2010

Não fui eu quem chamou a polícia!




Foi em abril de 2007 que cerca de 250 famílias de Limeira e região, pertencentes ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ocuparam uma parte do Horto Florestal em nossa cidade, conforme Claúdia Praxedes (fonte: http://www.midiaindepend ente.org/pt/blue/2007/04/380054.shtml). As famílias reivindicam a área para a Reforma Agrária, uma vez que de acordo com a Constituição Federal no seu artigo 184 afirma: “Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei”.

Em novembro de 2007 as famílias sofreram um despejo extremamente violento por parte da prefeitura municipal, que não tem a posse da área, todavia, a questão está sob judice. O despejo foi imoral, pois destruíram os poucos recursos da maioria das famílias - barracos foram enterrados com os objetos e até documentos pessoais dos acampados. Para meu espanto até a produção agrícola foi arrasada pelos tratores e máquinas da prefeitura. Homens, mulheres, crianças e idosos foram vítimas de bombas de gás lacrimogêneo e de balas de borracha. No mínimo cinco pessoas que apóiam o MST “foram encaminhadas ao hospital, três feridos e dois trabalhadores que passaram mal durante a ação (uma delas sofreu um enfarte). Os Sem Terra foram impedidos de sair da área e de retirar quem estava machucado. As crianças do acampamento se refugiaram num barracão, que foi atingido por bombas de gás, na presença de membros do conselho tutelar” e representantes de entidades religiosas, como a pastoral da criança (Fonte: http://www.ciranda.net/spip/article1906.html). Um exemplo desta violência foi a irmã Angélica, que foi alvejada na perna por um projétil de borracha, entre outras pessoas feridas.

Um outro movimento, ligado ao Sindicato dos Guardas Municipais de Limeira é um exemplo de como são tratados os movimentos sociais na cidade. Lembro que o sindicato, sempre buscou o diálogo. Há várias reportagens de jornais discutindo a ausência de negociação do Executivo Municipal com relação ao sindicato, ou seja, os guardas buscaram o tempo todo resolver sua situação na base do diálogo.
Acredito que foi a falta de conversa que acarretou o desagradável evento de setembro de 2009 em uma sessão ordinária, quando o presidente da Câmara Municipal também chamou a polícia. Conforme ficou registrado na capa dos Jornais Gazeta de Limeira (GL) e do Jornal de Limeira (JL), ambos datados do dia 17/09/2009. O JL expõe: “Guardas ocupam Câmara, PM é chamada e violência explode”. O presidente agiu dentro da legalidade, disto não há dúvida, mas discordo do ponto de vista político. Pensando a relação da violência com a política, lembrei da pensadora alemã Hannah Arendt, que afirmou certa vez: “A violência pode ser justificável, mas nunca será legítima”.

Um último exemplo, que acredito – e desejo - que seja isolado, foi o confronto entre os próprios policias, conforme reportagem do jornal Folha de São Paulo do dia 16/10/2008, que mostra o confronto entre as polícias civil e militar. É esse o tipo de instituição que queremos para proteger nossas famílias? Nem a própria instituição policial consegue dialogar entre si – infelizmente.

Dito isso, gostaria de pontuar uma última e prosaica questão: no meu entendimento não são os Movimentos Sociais, os sindicatos ou os governos de esquerda eleitos que se utilizam da força para conquistarem seus objetivos políticos, mas políticos e governos de direita. Muitos destes governantes querem criminalizar os movimentos sociais, a essência da democracia moderna. Utilizando-se da força bruta e decisões unilaterais, algumas instituições contribuem para o retrocesso democrático. Por fim, termino com o Caetano “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Somos uns boçais...”

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