Reflexão


"Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual. Ser real é isto" - Alberto Caeiro

"A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real" - Charles Baudelaire

Tuesday, August 9, 2011

Em Londres: Uma luta pela inclusão?


Depois de dias de revoltas na Grécia, por causa da irresponsabilidade de seu presidente Carolos Papoulisas, do intenso movimento social dos “indignados” na Espanha, que buscou mais transparência do governo espanhol, vemos agora um fervoroso movimento dos “intocáveis” em Londres, capital da Inglaterra. A onda de revolta, mesmo com objetivos diferentes, se estendeu do norte da África e da Síria para os centros europeus. Os revoltosos londrinos, por meio de atos ilícitos, queimam indústrias, bares e carros chamando a atenção do mundo. O que eles querem?

Não sabemos direito, pois a mídia brasileira, pobre em entender o mundo, só repercutiu a opinião oficial do confuso governo de David Cameron. Vejamos os jornais. O Estado de S. Paulo do dia 08 de agosto, trata o tema como se fosse um simples ato coletivo de vandalismo, “Violência e saques instauram caos em várias áreas de Londres” conforme manchete da matéria, já a Folha de S. Paulo do dia 09 de agosto, afirma: “Premiê britânico cobra ação "mais robusta" da polícia contra violência”. Tudo indica que haverá mais policiais nas ruas e prisões de jovens. Não vou citar nenhum jornal britânico, pois depois da crise do News of the World, fica complicado acreditar nos meios de comunicação deste país, perderam em certa medida, sua credibilidade para noticiar qualquer coisa.

Em meio às revoltas na capital inglesa e em cidades próximas como Birmingham, Manchester, Nottingham, Leeds, Bristol e Liverpool (norte do país); os manifestantes continuaram saqueando mesmo com mais políciais na região - é o efeito da fúria. Mesmo depois de quatro dias de “distúrbios”, não li em nenhum meio de comunicação, qualquer tentativa de diálogo com os manifestantes. Deve-se ponderar que não é admissível o quebra-quebra dos bens privados, lei e ordem são necessárias em qualquer comunidade.

Mas. Acredito que é muito fácil dizer que tudo isso é vandalismo e que a incompetente polícia britânica (Scotland Yard) que já matou, em 2005, um brasileiro inocente, seja a saída para o fim das revoltas. Creio que é mais que isso e os problemas são mais complexos e estruturais. Os tumultos iniciaram no sábado (06 de agosto) quando um policial matou um jovem (Mark Duggan, de 29 anos – ele era negro) que estava supostamente desarmando e que não reagiu à prisão, ou seja, o movimento começou por causa da própria polícia e sua truculência contra os jovens da periferia. Outro fator importante é o desemprego crônico causado pela crise do liberalismo e pelas medidas de austeridade feitas pelo governo que atingem esses grupos sociais com mais rigor. Esse cenário deverá ser um prelúdio das Olimpíadas que serão realizadas na Inglaterra, em 2012.

Talvez, a essência das revoltas seja o preconceito aos imigrantes, aos negros entre “outras minorias” que não são reconhecidas como cidadãos plenos, assim vivem as margens da sociedade britânica, são os “intocáveis”, mas dificilmente saberemos as razões deste movimento, pois o governo inglês busca soluções antigas para revoltas com objetivos novos. Enfim. A luta pela inclusão, provavelmente continuará por mais alguns dias e como diria o sociólogo britânico Anthony Giddens, vivemos as consequências da modernidade.

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